sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Eu parei de correr. A mulher que estava comigo também parou, confusa.

- Ouviu isso? - Perguntei.

- Ouvir o que além do prédio caindo, temos que ir!

- Essa voz...

Eu continuei à correr com ela. Houve um tremor e um ruído de como se houvesse uma explosão, enquanto corríamos, a janela do final do corredor foi destruída por um carro em chamas que atravessava a parede.

A mulher gritou com o susto.

- Mas nós estamos no décimo primeiro andar! - Gritou ela, confusa.

- Desce! - Disse eu.

Viramos na entrada das escadas logo à esquerda e continuamos à descer, descemos dez andares, o resto da escada simplesmente desaparecera no meio de concreto e fogo. Estávamos no primeiro andar, abrimos a porta para o corredor e vimos que ali estava pior, metade do corredor estava em chamas, vimos alguém gritando em algum lugar, percebi que vinha de um dos quartos.

Eu arrombei a porta e vi quatro criaturas que pareciam ser aranhas do tamanho de um cachorro, correndo pelo quarto, enquanto havia um senhor gritando no chão, com partes da sua carne à mostra e muito sangue.

A mulher do meu lado, estava tão assustada que não podia se mexer, ou até mesmo dizer algo.

Tentei parar o sangramento com uma toalha, mas o ferimento era profundo demais. O senhor de idade gritava desesperadamente e parecia estar perdendo a consciência, o sangue jorrava no carpete do quarto. Escuto um ruído agudo, parecido com a de um rato, olhei para trás e vi aquelas criaturas se juntando para correr atrás de mim.

- Rápido! - Gritei, puxando um sofá qualquer que estava no corredor para fazer um bloqueio na porta. A mulher fechou a porta e as criaturas ficaram se debatendo nela.

Eu corri até a porta do elevador e tentei ver se havia algum jeito de descer até o térreo, vi os dois elevadores despencados lá embaixo, não era tão alto, apenas precisávamos de uma corda para que nós não se machucasse.

Procurei, mas não achei uma coisa que servisse como corda, fui até a porta e examinei o local novamente, havia uma pequena borda na parede, por onde eu poderia andar de lado. Me agachei e me segurei naquelas bordas, o resto do meu corpo ficou para baixo, estava sustentado pelos meus braços. Eu escalei naquela borda até chegar perto do teto de um dos elevadores destruídos e depois me soltei, eu caí numa superfície mais próxima que o chão e eu fiquei bem, agora faltava a mulher.

Ela fez exatamente como eu, embora parecia às vezes que ela não iria aguentar seu próprio peso e cairia, mas ela conseguiu chegar ao elevador, eu a peguei no momento em que ela se soltou e não se machucou.

Agora a única saída era o próprio elevador. Pulamos dentro dele pela comporta de manutenção e a primeira coisa que pensei foi em abrir a porta, fiz força com minhas mãos, ela se juntou a mim e continuamos a empurrar a porta do elevador, abrimos uma fresta e passamos por ela para chegarmos ao hall do prédio.

O que encontramos foi um lugar escuro e destruído. A porta da frente do prédio havia desabado e estava em chamas, não sabíamos como aquele prédio ainda não havia caído completamente e matado todos nós, por isso tínhamos que sair dali o mais rápido possível.

Andamos pelo hall deserto até a sala da recepção, ela estava escura então mandei que a mulher pegasse um pedaço de madeira e ficasse esperando do lado de fora. Fiz meu caminho até a sombria porta da sala de recepção, ao abrir a porta, ouvi aquele mesmo ruído que ouvi no quarto do senhor, eu saí correndo para fora e duas daquelas aranhas correram pelo teto e depois pela parede, me perseguindo.

Aquela mulher atingiu uma das aranhas com a madeira, a outra tentou atacá-la, mas eu chutei-a para longe, me lembrei do revólver que eu tinha pego logo no começo e saquei-a.

- Você tem uma arma?! - Perguntou a mulher, surpresa.

- S-sim... Eu já havia me esquecido dela... Com tudo o que está acontecendo...

- Sabe o que está acontecendo aqui? - Perguntou ela.

- Não faço a mínima idéia, eu acordei com uma dor de cabeça no meu quarto e... Encontrei o prédio nesse estado, mas e você? Tem alguma suspeita?

- Não... Eu estava indo me encontrar com uma amiga, eu entrei no elevador e estava tudo normal até haver um tremor, o elevador parou e fiquei por umas seis horas presa lá dentro, eu estou com sede e com fome... E cansada.

- Você disse antes que tentou ligar para os bombeiros, ainda está com seu celular?

- Sim... - Disse ela, pegando de sua bolsa e dando-o em minhas mãos.

Eu digitei "911" naquele teclado sensível ao toque e apertei em "call". A seguinte frase apareceu na tela:

"Calling Emergency..."

Fui surpreendido por uma série de ruídos bizarros durante dois minutos, a mensagem automática repetiu duas vezes a mensagem "Pedimos desculpas, todas as linhas estão ocupadas, por favor, tente sua ligação novamente mais tarde."

- Que sons foram aqueles? - Perguntou ela.

- Eu não sei... Talvez de alguma interferência, ou algo do tipo...


Eu entrei na sala da recepção, estava escura, tateei a parede envolta, fazendo um caminho bagunçado até um interruptor, acendi a luminária e a sala se iluminou. A luz revelou o cadáver de um guarda e do recepcionista, ambos estavam com suas tripas reviradas, saindo de seu estômago e peito e caindo no chão ao redor, além da grande poça de sangue.

O guarda estava com uma pistola nas mãos, era sempre bom ter alguma arma para se proteger, por isso a peguei, o recepcionista estava numa posição sentada, ao lado de um armário que estava trancado com um cadeado ensanguentado. Peguei uma cadeira, quebrei a perna desta e tentei usá-la para abrir o cadeado, sem sucesso.

Peguei o revólver e apontei para o cadeado, puxei o cão e depois apertei o gatilho. O som do volume foi alto demais e ecoou pela sala, eu pude ouvir a mulher gritando do lado de fora, com o susto.

Abri o armário e peguei uma lanterna e algumas pilhas, peguei dois pentes da pistola do guarda e logo depois saí da sala. Me encontrei com a mulher do lado de fora.

- Pra onde vamos agora? - Perguntou ela.

- Precisamos de um lugar pra sair... Vamos tentar o estacionamento, se não conseguirmos, vamos tentar o depósito, provavelmente há algum neste prédio.

- Ok, vamos...

Enquanto caminhávamos até a porta de saída que ia para o estacionamento, ouvimos um rugido atrás de nós, ao olhar para trás, vimos dois homens ensanguentados olhando para nós, eles começaram à correr em nossa direção, não pareciam ser nada amigáveis, corremos até a porta e a fechamos. Aqueles homens continuavam batendo contra a porta.

- O que eles estão fazendo?! - Gritou a mulher.

- Eu não sei! - Respondi enquanto colocava minha força contra a porta.

As batidas e os gritos pararam. Eu coloquei uma mesa que estava ali do lado na frente da porta, de tal modo que não houvesse como eles entrarem, mas isto nos impediria de sair se precisássemos.

Ao me virar, eu me deparei com uma escadaria comum que virava para a esquerda logo à frente, o corrimão estava todo ensanguentado, alguém já tinha estado ali antes. Peguei a pistola e segui em frente, descendo cada degrau apontando a pistola para a frente, a mulher andava atrás de mim, quieta e cautelosa, mas eu sentia o medo emanando em volta dela.

Depois de duas portas, chegamos ao estacionamento. Estava um pouco escuro e havia um rastro de sangue espalhado pelo chão, os carros estavam espalhados e abandonados. Decidi seguir o rastro de sangue para ver se havia alguém vivo.

Andamos pelo subsolo escuro até a trilha de sangue acabar em um carro preto. Peguei a lanterna e a apontei para o vidro do carro, tudo o que eu pude ver foi a silhueta de uma cabeça encostada no volante.

Abri a porta do passageiro e encontrei um homem parecendo estar inconsciente, ele vestia um uniforme da segurança do prédio, eu o tirei dali e o coloquei no asfalto. Eu disse para eu e a mulher ficarmos afastados e esperar o comportamento que ele teria ao acordar, já que tínhamos visto aqueles dois homens no andar de cima, ela não entendeu muito bem, eu já tinha algo em mente, é claro que era algo ridículo, mas não custava nada prevenção.

O homem acordou depois de alguns minutos, ele se levantou confuso, gemendo da dor que tinha em seu braço que sangrava. Ele nos viu e sorriu.

- Não se preocupem, eu não sou um deles...

- O que está acontecendo aqui? Pode nos dizer?

- Bem, eu não sei o que está acontecendo oficialmente, mas eu sei que houve uma luz intensa, um som de como se houvesse uma bomba explodindo e tremor forte que abalou todos os prédios. Eu estava na recepção quando um ônibus voou e atingiu a entrada do hall, tudo começou à desabar e a pegar fogo, eu corri até o elevador e subi até o último andar para ajudar à evacuar o prédio.

- Evacuar? - Perguntei, foi uma atitude meio precipitada, mas fazia sentido, já que o hall estava desmoronando.

- Sim. Tentamos ligar as televisões e não havia sinal, tentamos os telefones, mas todas as linhas estavam ocupadas, a internet simplesmente não tem conexão...

- Quando eu liguei a tv logo que acordei, eu vi uma mensagem na tela.

- Que mensagem? - Perguntou a mulher, curiosa e assustada.

- Era uma tela azul do canal sete, havia uma sigla em caixa alta dizendo "EAS".

- Deus... Então é algo sério... Deve estar acontecendo algo na cidade. - Disse ele, assombrado.

- O que essa sigla quer dizer? - Perguntei.

- Emergency Alert System... - Respondeu a mulher ao meu lado. - É um sistema de comunicação do governo, o propósito dele é informar a população de como se cuidar na situação de um desastre de grandes proporções... Ele nunca foi utilizado oficialmente. Havia alguma instrução na tela? Uma barra com as letras passando?

- Não, apenas uma tela azul com uns bipes eletrônicos.

- É possível que não tenham ativado ela direito e esteja apresentando problemas. - Disse ela.

- O que devemos fazer agora? - Perguntei.

- Temos que arranjar um jeito de sair daqui antes que tudo caia em cima das nossas cabeças, tem que haver um jeito de sair por aqui, vamos procurar um carro que esteja funcionando.

- Isso é fácil, eu estava em um... - Disse o homem, se referindo ao carro preto de onde o tirei.

Eu tentei fazer uma ligação direta, errei na primeira tentativa quando o que eu ativei foi a buzina do veículo, na segunda vez o carro ligou-se e os faróis se acenderam, dei a ré e comecei à andar com o carro pelo estacionamento.

Mesmo com tudo o que vimos, tínhamos a esperança de ao sair do prédio, receber atendimento médico e souber que apenas aquele prédio estava em chamas e que sobrevivemos de um desastre...

Mas aquela noite estava apenas começando.

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