Acordei com a cara enfiada no chão frio daquele quarto desconhecido.
Meu corpo estava dolorido, e minha cabeça parecia que iria explodir. Eu estava suando e com sede, o quarto estava demasiadamente quente e escuro, parecia um quarto qualquer de um hotel cinco estrelas, fora a parte de eu não saber o que estava fazendo ali, tudo bem, o problema era o estado em que aquele quarto estava.
Me levantei daquele chão cheio de pó e sujeira branca, haviam janelas enormes, o vidro estava quebrado e as cortinas balançavam dentro do quarto devido ao vento. Podia-se ver o crepúsculo do sol no horizonte, contrastando com os edifícios de uma grande cidade, eu conseguia ouvir um barulho insistente de sirenes lá fora, mas eu ignorei e examinei o quarto em que eu estava.
Eu andei até o banheiro do quarto para lavar meu rosto, o fiz, bebi um pouco de água e fiquei me encarando no espelho, eu não conseguia reconhecer meu próprio rosto, não demorou muito até que eu notasse que... Eu não sabia nem mesmo o meu nome.
Quando voltei para o quarto, eu notei manchas do que parecia ser sangue nas paredes, havia um caminho que elas faziam pelo quarto, começando do canto onde eu acordei, até a porta que saía do quarto, para o corredor do hotel.
Fui até o aparelho de televisão e o liguei. Eu vi uma imagem azul com o número "7" girando, a tela mostrava:

Tocava-se uma sequência de tons eletrônicos, pareciam-se com bipes.
Mudei de canal, um dos canais mais importantes, Canal 44, estava totalmente fora do ar.
Desliguei a tv quando tudo o que eu via era estática. Me virei novamente para as paredes do quarto e observei as manchas de sangue e aqueles longos abajures derrubados. Eu estava vestindo apenas uma camisa branca e uma calça jeans, a minha camisa estava com uma mancha de sangue, aquele sangue não era meu, então de quem seria?
Será que eu machuquei alguém? Havia esta possibilidade, uma que eu temia. Vi um sobretudo preto pendurado num cabide e o vesti, abri a porta do quarto e eu cheguei ao corredor do hotel, as luzes piscavam e outras luminárias estavam queimadas. Haviam rachaduras e buracos abertos nas paredes, escombros no chão do corredor e muito sangue.
Fiquei desorientado, aquele lugar estava em ruínas e eu sentia o cheiro do sangue, andei por um dos corredores e achei um corpo no chão, corri até ele para tentar socorre-lo. O homem estava em cima de uma poça de seu próprio sangue, haviam escombros acima de seu corpo, eu tirei as pedras e ele gemia de dor por causa de seu ferimento no abdômen.
- Pegue isso... - Dizia ele com todo o seu esforço, me oferecendo uma revólver em sua mão. - Não deixe que eles te peguem... Fuja daqui, ou eles irão fazer o mesmo... Farão o mesmo que fizeram com as pessoas no hall... Não deixe que eles te peguem...
- Acalme-se, eles quem? Quem fez isto? - Perguntei.
- Aquelas coisas... Elas estão vivas... Eu não...
- Eu vou procurar ajuda, espere aqui, aguente firme... - Disse eu, ignorando a arma nas suas mãos e virando para o outro corredor. Estava totalmente escuro, eu peguei um pedaço de madeira que caíra do teto e coloquei num dos móveis em chamas, fiz do pedaço de madeira uma tocha e andei pelo corredor, não demorou muito até que eu achasse as escadas.
Enquanto eu descia as escadas, eu ouvi um grito alto seguido do barulho de tiros, meus pensamentos imediatamente se voltaram para o senhor ensanguentado no chão. Abandonei a tocha e corri até o local onde ele estava, o que eu vi foi perturbador: O vulto do que parecia ser um ser aracnídeo correu pelo teto e desapareceu nas sombras, pelo mesmo caminho que ele percorreu no teto, haviam gotas de sangue pingadas no chão traçando a mesma rota. O local onde antes o senhor estava agora era só sangue, poeira e escombros, além de sua arma jogada no chão.
Eu imediatamente peguei a revólver no chão e corri o mais rápido que eu pude para as escadas, depois de descer três andares, a escada estava destruída. Voltei um andar e vi o número escrito na parede: "13". Eu estava no décimo terceiro andar de daquele prédio.
Entrei no corredor de quartos e procurei uma forma de descer, uma forma de sair do prédio, as escadas estavam bloqueadas e a minha única opção era o elevador, embora eu sabia que não seria seguro usá-lo com o prédio naquela situação, com incêndios e escombros caindo do teto, mas era a única saída viável.
Havia um extintor de incêndio e eu o usei para tentar abrir a porta do elevador, o que aconteceu é que depois de algumas batidas o gás de dentro dele começou à vazar e tive que abandonar o extintor e achar algo mais pesado e resistente para forçar a porta de metal do elevador.
Eu entrei em um dos quartos daquele andar, havia um princípio de incêndio e parte da parede tinha uma enorme rachadura, podia-se ver o lado de fora do prédio, eu só via colunas de fumaça saindo dos prédios em volta. Eu fui até uma sala onde haviam várias estantes com livros, uma mesa e um antigo globo terrestre de bronze.
Eu peguei o globo pesado e o levei até o corredor, comecei à bater com ele na porta até esta ficar amassada, o globo se desprendeu de sua base e rolou no chão, produzindo uma vibração. Eu coloquei minhas mãos entre as portas e fiz força, abri uma passagem grande o suficiente para conseguir passar, mas eu me assustei.
- Merda! - Gritei ao ver aquela cena.
O elevador estava danificado, cabos soltos geravam faíscas e as paredes estavam manchadas de sangue, além disto, havia o corpo de um homem pendurado no meio do elevador. Seu rosto estava ensanguentado e estava sendo suspenso pela sua perna direita, olhei para o teto e vi que ele provavelmente morrera tentando sair do elevador pela comporta de manutenção e havia sido eletrocutado.
Houve um som alto de metal rangendo e para a minha surpresa, o elevador começou à cair, ele desapareceu diante dos meus olhos e seus cabos continuavam se movimentando rapidamente até o som do impacto no térreo do prédio, a polia e as engrenagens se desprenderam e caíram junto, atingindo as paredes do prédio, se aquelas coisas me atingissem, eu seria esmagado na hora.
Percebi que havia um elevador parado um andar abaixo, mais à direita do caminho do elevador que caíra. O elevador parecia estar intacto, eu imediatamente pensei em de alguma forma, pular nele e arranjar algum caminho para sair dali, mas eu poderia morrer. Aquele elevador poderia estar danificado, assim como o outro, se eu pular ali, capaz de as cordas se soltarem e eu morrer. Mas fui surpreendido por uma voz feminina dentro dele.
- Que som foi esse?! O que está acontecendo?! Alguém me ajude! - Gritava a mulher dentro do elevador.
- Senhora?! Você está bem?! Está ferida?! - Perguntei.
- Finalmente alguém! Eu estou com alguns arranhões, mas nada com que deva se preocupar, só me tire daqui, por favor! Eu tentei ligar para os bombeiros e falar nesse interfone, mas ninguém responde.
- Eu vou tentar, aguente firme! - Eu disse.
Voltei ao corredor e procurei por algo que funcionasse como corda, encontrei cabos elétricos pendurados num dos quartos, eu fui até uma porta da equipe de manutenção no mesmo andar e vesti luvas de borracha. Peguei um machado de emergência dentro de uma caixa contra incêndios na parede, puxei o máximo que pude do cabo e o cortei.
Era um pedaço longo, amarrei uma parte no trinco de uma porta e comecei à escalar a parede até o elevador, para a minha surpresa, o trinco não suportou o meu peso e arrancou parte da porta, eu consegui pular em cima do elevador antes que caísse vários andares abaixo, eu apenas pude ver o pedaço da porta batendo contra as paredes e caindo no térreo, era uma altura muito alta, dava medo apenas de olhar para os destroços lá embaixo.
- Você está aí?! Que barulho foi este? Você está bem?! - Perguntava preocupada a mulher.
- Estou bem, não se preocupe. - Respondi, enquanto analisava as engrenagens e dispositivos que ficavam em cima do elevador. - Tenta abrir esta comporta acima da sua cabeça.
- Comporta? Não é perigoso?
- Não, confie em mim, eu vou descer até aí.
Logo eu vi a comporta sendo aberta, eu me posicionei e pulei dentro da portinhola, de repente, no momento em que meus pés atingiram o chão do elevador, este começou à cair. Estava caindo em uma velocidade rápida e no momento eu não liguei para a dor que isto causou nas minhas pernas, pois pensei que iria morrer.
O elevador freou de repente, como se um mecanismo de emergência tivesse sido acionado. Eu e ela nos levantamos do chão do elevador, gemendo por causa da dor nas pernas e nos braços.
- Temos que sair daqui, agora! - Disse ela.
Tentei abrir as portas do elevador, consegui abrir uma pequena passagem por onde eu saí, depois ajudei aquela mulher à sair também, começamos à andar pelo corredor escuro e cheio de sangue, ela mostrava uma expressão de horror em seu rosto, estava assustada e impressionada.
Ouvimos um som atrás de nós, olhamos e vimos o elevador finalmente despencar do nosso andar até o térreo do prédio, desaparecendo com um som de impacto no meio de uma nuvem de fumaça que surgia lá de baixo.
- O... O que aconteceu aqui? - Perguntou ela com voz trêmula.
- Eu não sei, mas temos que sair logo daqui, este prédio está ruindo.
Ela insistiu em ficar parada, olhando aterrorizada para o sangue, os focos de incêndio e uma das portas derrubadas no meio do corredor.
- Venha! - Disse eu em tom mais alto, corremos pelo corredor, desviando dos destroços espalhados pelo chão.
Viramos o corredor e vimos um homem no chão um pouco distante de nós dois, ele estava vivo e nos viu, gritou por ajuda.
- Vocês! Por favor, me ajudem! Não me deixem aqui! Por favor, não me deixem!
Eu olhei para ele e pensei em continuar correndo, mas minha alma falou mais alto, parei e corri até ele, mas antes que eu chegasse até o homem, o teto começou à desabar juntamente com a parte do chão onde ele estava. Apenas consegui ouvir sua expressão horrenda antes da morte e de seu grito de desespero. Depois do desabamento, chamas começaram à se alastrar pelo corredor, eu e a mulher continuamos correndo, mas ela parecia estar chorando, assustada e desesperada.
Quando eu me dei conta, me perguntei o que estava acontecendo... Eu tinha visto sangue, pessoas mortas, fogo, desabamentos... E eu não sabia nem qual era o meu nome. Eu corria ao lado daquela mulher desconhecida, a única sobrevivente viva que eu tinha encontrado, estávamos correndo em direção às escadas, tentando achar um meio de escapar, e foi aí que eu ouvi aquela voz, uma voz rouca, como a de um senhor de idade.
"Can you hear the awakening?!"
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