"Apresento à vocês, Yui Nakamura..."
A professora sorridente ao lado da nova aluna da classe. Lá estava a garota nova, parecia carismática, mas sorria de forma tímida. Os alunos de toda a turma sorriam de volta, outros cochichavam entre si sobre a nova aluna.
Ela caminhou entre duas filas de carteiras até uma nos fundos da sala de aula, não deu muito tempo de observar os novos colegas, pois a professora já se preparava para escrever algo no quadro negro. No intervalo, os alunos se socializavam com a mais nova aluna da sala, os garotos a achavam linda e riam entre si, as outras garotas já até pareciam velhas amigas dela.
Nakamura olhou ao redor quando todos se afastaram, a maioria dos alunos não estavam na sala, apenas ela, um grupo na frente da sala e um único garoto na última carteira no canto esquerdo da sala, ele parecia sozinho, ouvia seus fones de ouvido e escrevia algo no caderno.
A garota de cabelos rosados ficou observando-o por um tempo, ele parecia esquecido, isolado... "Que garoto mais... misterioso" pensava ela. O sinal tocou e todos voltaram para a sala mais uma vez, não resistindo à curiosidade, perguntou à uma colega sobre o garoto no final da sala.
- O Hisashi? Nah, ele é um nerd anti-social. - Disse ela. - Nunca fala com ninguém, todos que tentaram ser amigos dele desistiram, ele é muito... estranho.
Horas se passaram e o sinal tocou novamente, Nakamura estava saindo de seu colégio e viu aquele garoto estranho à sua frente, ele estava pegando o mesmo caminho que ela usaria para voltar para casa. Decidiu não falar com ele, apenas continuar andando e observando-o constantemente.
Houve um momento que ele colocou uma das mãos no bolso e retirou um celular, ele o levou até o seu ouvido e disse algo que ela não conseguiu entender, ele de repente moveu ligeiramente sua cabeça para trás, Nakamura parou de andar, ela ficou assustada, sem saber o por que.
"Ele sabe que eu estou aqui?" Perguntava-se ela em sua mente.
Ele apertou algum botão e guardou o celular no mesmo bolso, continuou andando e virou em uma esquina, por um caminho cujo Nakamura não poderia ir por estar fora do caminho de sua casa. Ela parou na esquina e viu o garoto caminhando e virando em um beco entre dois prédios.
- - -
Dia Seguinte.
- O-olá... - Disse a garota.
Hisashi continuava em sua carteira, ouvindo seus fones de ouvido e escrevendo frases em inglês. Ele parecia não ter ouvido a garota, mas então percebeu a sua presença e olhou-a, tirando seus fones de ouvido.
Nakamura sentou-se na carteira à frente, que estava vazia, e então olhou para o caderno do garoto, havia um grande texto ou poema com o título "Paranoid Android".
- Foi você quem escreveu, não foi? - Disse ela, tentando puxar assunto.
O garoto, fitando os olhos da colega, acenou com a cabeça em positivo.
- Posso ver?
Ele parecia relutante, pensou por uns segundos, mas então acenou novamente com a cabeça.
Nakamura pegou o caderno e começou à lê-lo, haviam várias frases em inglês, ela não entendia muito bem o inglês, então só conseguiu ler a primeira linha, que dizia: "Por favor, poderia parar com o barulho? Estou tentando descansar um pouco."
Ela folheou as páginas do caderno e percebeu que haviam diversos outros textos como aquele, alguns escritos em japonês, inglês ou o que parecia ser russo. Impressionada, devolveu o caderno para ele, estava sem palavras, tudo o que pensava era: "O que esse garoto está fazendo?".
Depois de um momento de silêncio entre os dois, uma voz bem baixa foi ouvida...
- São músicas...
- Ãhn? - Respondeu ela, sem entender.
- São letras de músicas que... eu gosto... - Dizia o garoto.
- Então você escreve a letra delas enquanto ouve?
- Sim...
- Você sabe inglês?
- Só um pouco...
- Ah...
Nakamura ficou sem assunto, tinha medo de que ele não estivesse gostando daquilo ou algo do tipo, talvez era por isso que ninguém gostava de conversar com ele, ele era quieto demais. Todos desistiam fácil.
- O meu nome é Yui Nakamura, qual é o seu?
- Hisashi... Só me chame de Hisashi... - Respondeu ele.
Por um momento ela ficou assustada pensando que o garoto olhava para os seus seios, mas percebeu logo depois que na verdade ele olhava para o seu caderno, na mesa.
- Bem, eu vi ontem que você vai embora no mesmo caminho que eu, quer ir comigo depois da aula? - Perguntou Nakamura, corada.
Por uns segundos, o garoto a olhou de forma estranha, como se desconfiasse de algo, mas logo sua expressão mudou e ele acenou positivamente com sua cabeça.
- - -
Os dois andavam lado a lado pela calçada, em silêncio. Durante duas semanas isto se repetia, porém ela tentava conversar cada vez mais com o garoto, ela lhe contava sobre problemas da sua vida, e ele a ouvia, porém nunca falava dele mesmo.
- Hisashi, por que nunca disse nada sobre você pra mim? - Perguntou ela, curiosa.
- Não precisa de palavras para me conhecer melhor, uma pessoa consegue conhecer muita coisa sobre alguém só por estar por perto. - Respondeu ele, enquanto andava.
Nakamura acho aquela frase linda, porém, era a maior que ele já tinha dito desde que se conheceram.
Dias se passaram, ela tentava com todo o seu esforço ser uma amiga para ele, compartilhou suas músicas preferidas e fez com que ele fizesse o mesmo, ele era diferente demais da maioria dos garotos, ele era tímido, gentil, e ouvia músicas de rock, geralmente dos anos setenta, oitenta ou noventa.
Meses se passaram, os demais da classe cochichavam entre si sobre os dois, estava mais do que óbvio que a maioria dizia que os dois estavam em algum tipo de romance. Hisashi não conversava com mais ninguém além de Nakamura, e ela geralmente estava mais perto dele do que do resto da turma.
Num dia qualquer, ela sentou-se na sua carteira e olhou para a de Hisashi, porém, ele não estava mais lá como todas as tardes. À medida que os outros alunos chegavam, ele não aparecia, e continuou assim pelo resto do dia. "O Hisashi faltou a aula? Mas ele nunca faltou! Será que aconteceu algo com ele?!" Pensava preocupada.
No dia seguinte, ele não apareceu. E isto se repetiu por mais um dia... E mais um... E mais outro...
Sete dias se passaram, e ele não havia aparecido mais no colégio.
Na saída, ela notou um pequeno bilhete em sua mochila, dizia: "Gomenasai"*.
Ela andou até a frente do colégio e viu um vulto que se parecia com Hisashi, ela correu até lá e viu o vulto entrando no mesmo beco que tinha visto no primeiro dia, ela correu até lá e encontrou-o sendo espancado por dois outros garotos.
Horrorizada, chamou um guarda que passeava na rua, ele a acompanhou até o beco e já não havia mais ninguém além de Hisashi jogado no chão, ensanguentado.
- Hisashi! - Gritou ela, correndo e se agachando ao lado do garoto.
Enquanto isso, o guarda olhava para ver se o estado do garoto era grave, vendo que seus ferimentos eram mais sérios do que aparentavam, chamou uma ambulância.
- Fale alguma coisa! - Dizia Nakamura, revoltada, e caindo em lágrimas.
- I may... be paranoid... but not an... - Respondeu ele, logo antes de ficar inconsciente.
Um ano se passou, Nakamura nunca mais teve notícias daquele garoto desde que ele foi colocado naquela ambulância e levado embora... Nunca mais apareceu no colégio, nunca o vira novamente, ela fez novos amigos e seguiu sua vida em diante...
- - -
"Dois adolescentes foram encontrados mortos hoje por um casal num beco da rua Sakura, a polícia cercou o local e segundo oficiais, são estudantes de um colégio próximo..." Dizia uma mulher no noticiário da TV.
Nakamura estava voltando do colégio e se deparou com um garoto agarrando-a pelo braço e levando-a até um canto abandonado da escola.
- Eu... Eu estou bem... Me desculpe por sumir tanto tempo... - Dizia ele.
- Quem é você?! E por que está me segurando assim?! Pare! - Gritou ela, se soltando do garoto.
- Y...Yui...?
- Me deixe em paz... E-eu não sei quem é você... - Dizia ela, olhando para o garoto com o rosto deformado.
Nakamura deu de costas e andou apressada para a frente da escola, o garoto continuou ali, parado.
"Por que...? Por que você não se lembra do meu nome?!" Pensava o garoto.
Ele abaixou sua cabeça, e sorriu de forma assustadora. "Tenho certeza que ele sabe...". Uma imagem veio na mente do garoto, a imagem de dois adolescentes com suas gargantas cortadas à ponto de quase separar a cabeça do tronco, olhos furados, espancados e com dedos, mãos, pés e genitálias esmagadas por uma marreta.
"Quando eu for rei você será a primeira contra a parede... Com suas opiniões que não servem para absolutamente nada." Pensou ele.
Mnutos depois, Nakamura corria para casa por causa da chuva que se aproximava, e estava assustada por causa daquele maníaco que a agarrou no colégio, ela passou por um beco próximo da sua casa, e então alguém a puxou na direção do beco escuro, fazendo-a cair com força no chão.
- Por que... Você não se lembra do meu nome? - Perguntou o garoto, de forma assustadora.
- E-eu não sei!
- O que?
- Eu já disse que eu não te conheço! - Gritou ela, no chão.
O garoto ficou cabisbaixo por uns segundos, antes de se abaixar calmamente e desferir um soco no rosto de Nakamura.
A garota caiu novamente no chão, estava agora deitada. "Ambição te faz parecer muito feia".
Ele tirou toda a roupa da garota, que estava inconsciente, beijou-a de forma delicada antes de morder os seus lábios, fazendo-os sangrar.
Ele abusou do corpo da garota, lambendo os seus seios e penetrando sua vagina, seus olhos estavam ligeiramente opacos, como se não soubesse o que estava fazendo, como se tudo aquilo fosse um pesadelo e que logo ele acordaria.
Ele se afastou da garota e sentou-se encostado na parede, ela logo acordou, sua primeira ação foi colocar o dedo em seus lábios que sangravam, logo depois percebeu estar nua e que algo escorria de sua vagina, ela ficou desesperada, porém antes que gritasse, alguém colocou uma fita adesiva em sua boca e impediu que ela falasse, segurando seus braços.
"Gomenasai, tsuma-chan, mas só agora eu notei... Que você armou tudo aquilo contra mim, queria se livrar de mim, por isso pediu para aqueles idiotas me espancarem, mas não se preocupe, eu já me diverti massacrando eles..."
Nakamura estava horrorizada, mas por um momento parou e se lembrou... Mas era impossível! Não podia ser ele! Hisashi... Ele não seria tão monstruoso à ponto de fazer tudo aquilo!
"I may be paranoid, but not an android... Não se preocupe, Deus ama as suas crianças..."
Uma lâmina pequena furou o peito de Nakamura, ela sentiu uma dor forte, mas ela sumia rapidamente, sentia um líquido quente escorrendo da faca, era o seu próprio sangue... Começou à chover nessa hora. Hisashi começou à cantarolar alguma música, como se comemorasse a chuva, logo depois ele se agachou na frente da garota e disse para ela, sorrindo de forma demoníaca:
"That's it, sir! You're leaving!"
- - -
"Mais um corpo de uma colegial foi encontrada nesta tarde de segunda-feira, ela foi estuprada e esfaqueada até a morte, a polícia investiga se o assassinato tem relação com o de dois alunos da mesma escola secundária do bairro, há suspeitas de que seja um assassino em série..."
O ano começava novamente, os alunos andavam pelos corredores do colégio, um garoto com uma pequena deformação perto do olho, como se tivesse levado um soco, escrevia em seu caderno, ouvindo alguma música em seus fones de ouvido, ele estava sozinho, sentado nos degraus de uma escada do corredor.
- O-olá... - Disse uma voz suave e feminina para o garoto, que levantou a sua cabeça e retirou os fones de ouvido... O que você está escrevendo? - Perguntou ela.
Após alguns segundos de silêncio, ele respondeu:
- São músicas... Letras de músicas... E esta canção em especial é um pouco triste.
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